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28 de junho: Dia de (muito) orgulho LGBTIQA+


Publicada dia 28/06/2021 17:02

Não vou falar por todxs, porque não somos um grupo, nem um grupo político (embora muitxs de nós politizemos a causa), somos existências plurais.

Não começarei este texto falando de mortes, ou, melhor dito, de assassinatos e estupros corretivos. Não quero que sejamos identifcadxs só pelo sofrimento. Quero que nos identifiquem pela nossa força, pela nossa luta individual e coletiva porque nós, as pessoas LGBTIQA+, todos os dias temos que sair e voltar a sair e voltar a sair do armário. Acontece que do armário não se sai uma única vez.

A sociedade heterossexual o tempo todo reforça sua convicção de privilégio, mas nós, pessoas conscientes, não voltamos mais atrás, quer dizer, não voltamos às trevas. E por isso, uma e outra vez afirmamos e nos reafirmamos, assim como as pessoas negras não voltam às senzalas, assim como o povo judeu aos campos de concentração, assim como as mulheres às fogueiras, assim…

Por isso, a luta a partir de causas/bandeiras únicas fica na superfície e num certo individualismo. A libertação tem que estar abraçada a todas as bandeiras que exprimam libertação, porque só assim será efetiva. Se a partir de uma dor, podemos sentir as outras dores, nosso corpo de luta será maior.

Por todo esse movimento que a gente faz, de um tempo para cá, venho propondo uma mudança na nossa palavra-nome-casa que espelhe as nossas ações : lesbianISMO. Um modo de ressaltar que o movimento é social e é político.

Acontece que durante um tempo, a palavra homossexualismo apareceu na lista de doenças, por isso as organizações optaram pela palavra homossexualidade e, mais tarde, as lésbicas fizemos o mesmo. Mudamos o termo de lesbianismo para lesbianidade com o objetivo de nos afastar da ideia de doença. Mas acontece que o sufixo ISMO tem duas formas de ser lido. Uma, será a de doença, mas a outra, a prova de que estamos em movimento e pensamento contínuo. Assim como falamos em socialISMO e em anarquISMO, e a ninguém ocorre imaginar que tem a ver com mal-estar, mas com ideias políticas de mudanças sociais, muita gente, agora, poderá nos ver como um grupo renovado, com força, com esperanças. Porque estamos vivas e vivxs e vamos nos ressignificando e reinventando a cada passo.

Não é (só) pelo amor que a gente luta. Algumas e alguns de nós, lutamos pelas nossas existências que incluem o amor, o desejo, o prazer, a liberdade de nos relacionar com quem a gente assim o desejar, mas não termina nem começa aí. Ontem ouvia uma moça, numa live, falando é só amor, o que importa se são 2 homens, 2 mulheres ou um homem e uma mulher? E eu louca por gritar, não, não é “só amor”, é muito mais do que isso!!! Esse “outro” amor, esse “outro” ser/estar nos dá outra perspectiva do todo. Somos seres a-normais, pois não seguimos as normas impostas pela sociedade, ou, algumxs, inclusive, pelo CIStema (são consideradas CIS as pessoas que unem o sexo e o gênero designados culturalmente, quem se assume não binárie – ou seja, nem feminina, nem masculino – também não o é).

Se o nosso movimento é o Lesbianismo, nós somos lésbicas, mas também poderemos ser sapatão (ou tortas como se chamam em América Latina e o Caribe), lesbianas, lesbianes (como estão se assumindo algumas pessoas não bináries), lesbianistas (lesbianas + feministas). Na hora que a gente está fora do sistema, o nome depende de nós. Somos livres. Livres para nomear-nos, livres para pensar-nos.

A discriminação que sofremos a cada dia é o nosso maior desafio. Nós avançamos, nós estamos à frente e por isso nós somos chamadxs com todas as letras de LGBTIQA+. Esse IQ a mais, ou seja, nosso IQ, ou, Quociente de Inteligência, cresce porque a gente não se rebaixa, a gente se desafia a cada dia. Esse mais, pode indicar também, todas as outras bandeiras, mostrando assim, que não caminhamos sós.

E não. Não queremos ser iguais a esta sociedade hétero-patriarcal-racista-capitalista. Queremos outra humanidade. Esse é o nosso orgulho : estar em movimento constante e permanente e nunca abaixar a cabeça.

* mariam pessah : ARTivista feminista, escritora e poeta, autora de Grito de mar

* Este é um artigo de opinião.

Por: Katia Marko – Brasil de Fato

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